segunda-feira, 14 de junho de 2010

Adeus estudantes, olá formados!

Estudar fora de Portugal é uma opção para uns e a única saída para outros. Mariana e Sofia não tiveram outra escolha senão alargar conhecimentos fora do seu país. As médias destas duas jovens não eram suficientes para chegar ao curso universitário que pretendiam. Por alguns valores, tiveram de abandonar as suas casas, as suas famílias e os seus amigos para poderem tornar-se naquilo que sempre ambicionaram. E o que sabe o governo português sobre este assunto? Nada.




Foi há três anos que Mariana Capela deixou a sua casa para rumar até Espanha. Enfermagem foi o curso que escolheu e que Portugal não lhe deu oportunidade de aprender.
Todo o esforço que fez nos três anos em que frequentou o ensino secundário não chegaram para atingir o seu objectivo. A média de 16, o valor que trazia do secundário, não era, nem de longe, suficiente para seguir medicina e até mesmo enfermagem.


A hipótese de estudar numa universidade privada em Portugal nunca foi uma opção para Mariana. O facto de nenhuma instituição de ensino público lhe abrir as portas para aquilo que realmente queria, fez a jovem virar as costas ao ensino português e, na sua cabeça, todos os caminhos iam dar a Espanha.


A sua chegada ao país vizinho, mais propriamente a Mérida, a 350 quilómetros de Torres Vedras, foi “horrível”, conta Mariana. Aos 17 anos abandonar a família para viver sozinha num novo país, com outra cultura não foi fácil. Mas o tempo tudo cura e conseguiu dar a esta jovem o conforto necessário para seguir em frente. Esteve um ano a habituar-se ao espanhol e só depois entrou para o Centro Universitário de Mérida, que pertence à Universidade da Estremadura. É neste centro espanhol que está a aprender enfermagem, onde, afirma Mariana : “Existem mais condições para estudar, mais oportunidades de formação e mais facilidade de entrar no mercado de trabalho”, disse a jovem.


O que mais revolta a estudante de 21 anos é o facto de as médias de entrada nas universidades portuguesas, no curso de medicina, serem tão elevadas, quando o país contrata profissionais de outras nacionalidades para exercer nos seus hospitais.
Quanto ao futuro, a jovem pretende começar a exercer a profissão em Espanha e só depois regressar a Portugal. Na sua opinião, quando se chega a um hospital português para trabalhar “ou se tem experiência ou então o melhor é esquecer”.

Mariana Capela (à esquerda) ao lado das colegas espanholas.

Além de Mariana, muitos outros jovens vivem a mesma situação. O Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, responsável por estes assuntos, garante que não dispõe de qualquer estatística ou informação sobre estes casos.


Na lista fantasma de jovens que são obrigados a abandonar o país para poder continuar a estudar, está Sofia Jerónimo. Conseguiu entrar em ciências farmacêuticas em Portugal embora o seu sonho fosse tornar-se médica, mas as médias que trazia do secundário eram um pesadelo em que o único remédio era acordar. O certo é que Sofia continuou a sonhar na República Checa, o país que lhe abriu as portas para se tornar naquilo que sempre desejou.


A facilidade que tem em falar inglês foi apenas mais um dos motivos que a fizeram abandonar Portugal.
As dificuldades de adaptação foram imensas, mas a vontade de seguir um sonho falou mais alto e todos os obstáculos foram ultrapassados. Sofia teve de estudar medicina fora de Portugal, onde existem apenas cerca de quatro médicos por cada mil habitantes, segundo números do Instituto Nacional de Estatística actualizados em Julho do ano passado.


O dinheiro gasto pelas famílias destas duas jovens não é pouco e essa é uma das grandes dificuldades de se estudar fora de Portugal, mas outros obstáculos se atravessam na vida destas estudantes. Apesar de terem feito amigos nos países onde agora residem, a família e os amigos mais chegados estão longe e aquilo que sentem é bem português, a saudade. É a saudade daqueles que lhes são queridos que mais as abala. Mariana visita a família, o namorado e os amigos apenas no final de cada semestre, a única altura em que tem férias.


Mesmo com todas estas batalhas, Sofia e Mariana esperam vencer a guerra e para que isso aconteça falta apenas um ano. O poeta e escritor António Gedeão escreveu um dia que “o sonho comanda a vida”. Seguir um sonho foi o que estas duas jovens fizeram na esperança de que Portugal lhes possa dar aquilo que um dia lhes negou.

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